Prefácio
Antes de começar a escrever essa introdução, reli grande parte dos e-mails que trocamos - eu e o autor - sobre todas as revisões que fizemos, as alterações acertadas, os comentários detalhados; a fluidez, o tom, o peso. Senti-me apreensiva em alguns desses e-mails, relendo o que eu havia colocado, a emoção, a indignação, a revolta, as reações sobre certas situações ou sobre um personagem mais “exaltado”, ou “apático”, ou “irreal”.
O que ficou impresso na minha mente ao ler esse livro, nascido depois de um longo tempo e de muita dedicação, foi o quão familiares certas narrações pareciam e, ao mesmo tempo, quão impensadas e até surreais outras definitivamente eram! Muito se pode questionar conforme o leitor – eu, você – avança as páginas. Quem teve uma vida que não foi contada por nossos avós, que a contaram para seus filhos e que então chegou até nós? Qual vida é isenta da lembrança do passado e a da preocupação com o futuro? Qual pai não desejou o melhor para o filho – mesmo que o filho achasse que aquilo não é o melhor para ele? Por outro lado, como pode alguém buscar com tanta convicção seu objetivo maior, renunciar confortos e ultrapassar barreiras simples ou inimagináveis e, cedo ou tarde, deparar-se com a cegueira, a traição, a violência, o abuso e o abandono como recompensa? Peças desencaixadas. Descrições fortes. Cenas impensadas. Pessoas frias. Solidão.
O leitor será levado por momentos incríveis quando se identificar com boa parte das palavras que poderão remetê-lo à sua família, à sua infância e aos conselhos do seu próprio pai; ao longo da narrativa, será tomado por compaixão, indignação e revolta e se perguntará vez ou outra o que deu errado, o que foi perdido, onde foi o passo em falso.
Ao final, perceberá que o passo em falso sempre estava ali, ora evidente, ora oculto, mas sempre ali. O gatilho estava claro desde o início e foi alimentado, capítulo a capítulo, com pitadas de verdades chocantes e de circunstâncias utópicas. Intrigante? Vale a leitura para constatar.
Patrícia Jurasseche Barrigão